Ensinar a falar é tão importante quanto ensinar a ler e a escrever
Crianças e jovens precisam aprender a falar em público e a defender idéias e direitos. Essas habilidades não podem ficar de fora do ensino da língua.
Ao entrar na escola, os alunos já sabem se expressar oralmente na língua materna e podem se comunicar sem grandes dificuldades nas diferentes situações do dia-a-dia. Mas é comum acreditar que o desenvolvimento da capacidade de expressão oral seja atribuição da família. Afinal, as primeiras palavras são ditas em casa, diferente das primeiras letras, que são traçadas, na maioria das vezes, na escola. "É necessário valorizar a fala, caso contrário reclamações sobre a incapacidade dos jovens de se comunicar, sobre o abuso de gírias e a falta de vocabulário serão cada vez mais comuns", afirma Maria José Nóbrega, consultora de Língua Portuguesa, de São Paulo. Mesmo os alunos pequenos devem saber que procurar um emprego, defender direitos e opiniões em público, realizar entrevistas, debates e seminários são ações que exigem uma construção gramatical diferente da empregada no bate-papo com amigos. Por isso, um bom currículo escolar promove o acesso a usos de linguagem mais apurados e convencionais.
Para que desenvolver a oralidade não signifique corrigir a fala dos alunos, reconheça as diferenças culturais presentes na língua.
Trabalhos de expressão oral são muito mais que leitura de textos em voz alta. Eles incluem o incentivo à manifestação espontânea e freqüente dos alunos em qualquer disciplina. As atividades partem de situações simples, como a sua disposição para ouvir e permitir que crianças e jovens exponham suas idéias. Depois é preciso criar ações didáticas que possibilitem experiências significativas da comunicação pela fala.
Para que um aluno seja capaz de fazer um comunicado para os colegas da classe é preciso que ele esteja desinibido e que tenha o discurso preparado. Já na Educação Infantil você pode incentivar a participação em teatrinhos e a conversa entre os pequenos até mesmo durante atividades simples, como a brincadeira com massinha.
O Ensino Fundamental e o Médio pedem atividades mais complexas, como a apresentação de seminários e palestras, a realização de entrevistas, a análise de material gravado, a produção de programas de rádio e outros.
É preciso saber ouvir
Saber falar envolve saber ouvir e esperar o momento certo para argumentar. Essa atividade é antes de tudo uma lição de respeito e educação, tão discutida principalmente com as turmas de adolescentes. O grupo deve estar atento para não repetir idéias já expostas num debate, por exemplo. O ideal é acrescentar algo àquilo que já foi dito.
Uma das maneiras de realizar um bom trabalho de escuta é ler contos e fábulas infantis para a garotada, desde a Educação Infantil.
Nas primeiras séries do Ensino Fundamental, os estudantes já têm condições de ficar atentos a palestras ou outros gêneros gravados previamente. Maria José defende a criação de um acervo de fitas cassete ou de vídeos que apresentem modelos de textos orais. Palestras ou entrevistas de personalidades do interesse da garotada, veiculadas pela televisão ou pelo rádio, são uma boa pedida para compor a coleção.
Outra opção é orientar a capacidade de ouvir por meio de textos produzidos pelos próprios estudantes. Você também pode organizar atividades de escuta crítica de textos para que os alunos aprendam a fazer anotações durante uma aula, exposição ou palestra.
Turmas a partir da 5ª série já podem transcrever uma aula, entrevista ou palestra gravada. Além de treinar o ouvir, elas aprendem a selecionar e resumir as informações constantes do material.
Lembre-se de que o primeiro modelo da turma é você. Por isso, é importante falar corretamente, não usar gírias e ouvir atentamente a sua classe. "O diálogo entre alunos e professores é uma excelente oportunidade de aprendizado, pois permite a troca de informações e o confronto de opiniões", conclui Maria José.
No decorrer de atividades que estimulem a comunicação oral, o professor poderá se deparar com crianças que:
-Troque letras na fala,
- Tenha vocabulário pobre para a idade,
- Fale de maneira infantilizada, incompatível com a idade,
- Omita erres ou esses,
- Fale de maneira muito acelerada,
- Gagueje
- Fale com voz muito fina para um menino,
- Fale com voz muito grossa para uma menina,
- Seja muito tímida ou se negue a falar,
- Passe mal quando precisa falar na frente do grupo,
- Se comporta de maneira estranha quando solicitada a falar com o grupo ou para o grupo...
Nesses casos o professor deve solicitar aos pais que busquem uma avaliação Fonoaudiológica, para a verificação de alteração na comunicação, orientação aos pais e professores evitando desta maneira alterações na leitura e escrita e até mesmo alterações de comportamento ou sociais, pois nos grupos estas crianças costumam ser deixadas de lado pelos colegas e até hostilizadas, muitas vezes quando a criança é observada tardiamente os reflexos no comportamento podem necessitar de intervenção Psicológica. Essas medidas simples podem facilitar o crescimento físico, emocional e social de nossos alunos.
Felipe Ribeiro
Fonoaudiólogo e Psicopedagogo
Coordenador do NIACP.
Materia Original de Roberta Bencini publicada na revista Nova Escola em 12/2003
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