Meu filho fala errado! Meu filho confunde algumas letras ao falar! Meu filho não fala o “r” de braço ou barata! Meu filho troca o “r” pelo “l” falando igual ao Cebolinha!
Será que ele supera sozinho? Ele precisa de ajuda especializada?
Essas são as perguntas e afirmações que mais me deparo na prática clínica, nas palestras e nos grupos de pais e mães. Na tentativa de auxiliar e responder essas e outras dúvidas estruturei o texto a seguir.
Uma criança aos 12 meses usa mais a comunicação através de choro, gestos, olhar, gritos, sorriso do que a linguagem, mas já inicia a procura da comunicação através da fala e linguagem.
Por volta de 1 ano já é esperado que a criança produza algumas palavrinhas familiares como mamãe, papai, vovô e vovó. Aproximadamente aos 2 anos combina duas palavras, como por exemplo: "este aqui", "quer água". Aos 3 anos e meio já são capazes de formar frases com mais de três palavras e de narrar fatos que aconteceram com elas. Nesta idade elas possuem vocabulário com mais de 1.000 palavras, que é ampliado de modo bem acelerado. Além disso, já deve compreender situações que envolvam linguagem e atender as solicitações daqueles que com ela interagem.
Na língua portuguesa, o fonema r (de barata) é, normalmente, o último som que as crianças aprendem a falar. Isso porque a sua produção requer uma habilidade motora maior do que a necessária para a produção de outros fonemas. Aos 4 anos, no entanto, toda criança já deveria produzi-lo.
Se até os 3 anos seu filho continuar a comer consoantes (dizendo "asa" para "casa", por exemplo) ou a substituir um som ou uma sílaba por outra (dizendo "papato" em vez de "sapato", por exemplo), vale a pena buscar uma avaliação fonoaudiológica. O profissional da área poderá orientá-la para fazer exercícios em casa ou indicar uma terapia. Às vezes pequenas atitudes, como chamar a atenção para o som errado repetindo a palavra corretamente, já são suficientes para obter bons resultados. Se seu filho disser: "Qué pô o papato", você pode responder: "Ah, você quer pôr o sapato?"
O ideal é que crianças com dificuldade de fala busquem ajuda fonoaudiológica antes de serem expostas à alfabetização, uma vez que é muito comum as crianças levarem essas dificuldades de fala para a escrita, interferindo diretamente no processo de aprendizagem. Dessa forma podem-se prevenir muitos problemas de ordem fonoarticulatória que seriam desagradáveis para nossos filhos. Assim, evita-se que a criança seja exposta a situações constrangedoras para ela, ou que acabe ridicularizada por outras crianças do clube, da classe, etc. Todo ser humano gosta de ser alvo das atenções, seja por beleza, inteligência ou dotes físicos; porém, não existe ninguém no mundo que queira ser lembrado por seus defeitos ou dificuldades, por menores que eles possam parecer.
Dicas aos pais e professores
- Repetir somente a palavra correta para que a criança não fixe a forma errada que acabou de pronunciar.
- É importante articular bem as palavras, fazendo com que as crianças percebam claramente todos os fonemas.
- Assim que perceber alterações na fala de um aluno, o professor deve evitar criar constrangimentos em sala de aula ou chamar a atenção para o fato. O recomendável é que não se espere muito tempo para avisar a família e procurar um fonoaudiólogo.
- Uma criança que falta às aulas regularmente por problemas de audição, como otites freqüentes, requer maior atenção e encaminhamento ao otorrinolaringologista.
- Os professores devem ser bem-orientados em relação a estes fatores e , para isto, é preciso que haja interação entre eles e os fonoaudiólogos.
- O ideal é que a criança faça uma avaliação fonoaudiológica antes de iniciar a alfabetização, além de exames auditivos e oftalmológicos.
- Muito cuidado com dicas para realizar exercícios de amiguinhos ou exercícios colocados na Internet, pois estes variam em diversos fatores quanto ao número de repetições, intensidade, postura de acordo com tipo físico, idade e dificuldade encontrada, não se arrisque, busque um profissional habilitado.
Dr. Felipe Ribeiro
Fonoaudiólogo e Psicopedagogo
Coordenador NIACP